Refúgios e boas notícias
Outro ano terminou com a sensação de que passou muito rápido. No primeiro semestre, tínhamos a impressão de que 2021 era uma espécie de 2020 prime, em que as preocupações com a Covid-19 seguiam em alta e as incertezas se acumulavam. Fechamos 2021 com (outras) novas variantes, instabilidade e uma vontade ainda maior de que isso tudo se encerre logo.
A má notícia é que não vai se encerrar tão cedo. Esta também é uma boa notícia. Olhando pelo viés científico, conseguimos desenvolver vacinas em tempo recorde e com certeza vamos estender a proteção aos humanos com novos medicamentos. Outras pesquisas em desenvolvimento tiveram bons resultados no caminho de soluções para doenças como Alzheimer, diabetes e HIV, a exemplo da pílula única aprovada recentemente. Fora dos laboratórios, dezembro de 2021 vai sediar o julgamento dos réus pelo caso da Boate Kiss, lá de 2013, cuja tragédia vai inspirar a produção de uma minissérie da Netflix.
Parece muito tempo, talvez seja muito tempo mesmo, mas as coisas demoram mais no mundo real do que na ficção. Em comum, realidade e ficção têm o poder de não conseguir colocar um ponto final nos problemas. A história de virar a página e começar um novo capítulo; de encerrar um livro e colocar um ponto final na história, é bonita no papel, mas mesmo nele é falha porque as histórias não acabam quando o ponto final aparece. Escrever FIM não impede que a história continue viva na mente dos leitores porque eles se apropriam do personagem e podem tentar dar destinos diferentes do que você imaginou inicialmente através de uma boa e velha fanfic. Quando pensa sobre a vida real, a história imaginada para ter o final que gostaríamos se chama ficção.
Não vivemos nela, mas precisamos dela. Precisamos ver algum sentido em meses e anos que passam rápido demais, em vidas que se perdem cedo demais, em tragédias horríveis demais. É a ficção quem nos ajuda a ver o mundo sob outros prismas, que nos impulsiona a refletir sobre os temas que estão ao nosso redor, direta ou indiretamente. Então, quando o mundo acelerar, quando tudo parecer perder o sentido, encontre refúgio na ficção. Não é ruim, não é vergonha. É apenas uma boa notícia.